terça-feira, novembro 11, 2003

Brincando com a Morte



Há tempos eu venho pensando como seria ir atrás de alguém com um machado. Tipo filme de terror sabe?
A vítima poderia ser um cara dos filmes americanos de Sessão da Tarde. Um daqueles capitães de futebol americano com montanhas de músculos, cérebro pequeno e que sempre se dá mal no final do filme (a namorada dele, líder das cheerleaders resolve sair com o cara mais nerd do colégio porque ele é inteligente, tem integridade moral, é corajoso e bla bla bla...daqueles que sempre se dão mal no começo e vivem felizes para sempre no final). Mas seria um cara desses porque eu tenho bom coração, correria atrás dele com um machado como qualquer um já pensou em fazer. Melhor ainda, usaria uma foice, daquelas grandes como a da Morte. Por sinal, me vestiria como a Morte, com uma enorme manta preta e capuz, pra dar um ar mais sombrio ao filme. Debaixo do capuz, eu estaria usando uma máscara branca, sem expressão (como na foto lá embaixo no outro post).
Tudo começaria num vagão de metrô desligado. Tudo muito escuro, tudo muito silencioso. O cara sozinho dentro do vagão (não é pra fazer sentido não). De repente, começa a ouvir um barulho gritante de metal raspando em metal.... E lá venho eu com minha foice. Lentamente, arrastando a lâmina no chão... Ele não pode ver nada além de faíscas se aproximando. Desesperado, sai correndo (obviamente) e eu continuo andando na sua cola, com a mesma cadência e postura (obviamente). Por mais que ele corresse muito e eu continuasse andando, a distância entre nós seria sempre a mesma (porque o filme é meu).
Ele sai às pressas da estação e entra numa floresta onde uma densa neblina paira rente ao solo. E eu continuo caminhando logo atrás...Virando a cabeça na minha direção, pode finalmente ver o que o persegue. Um vulto de máscara carregando uma enorme foice afiada. "Oh god, oh god!? What do you want?!?"... "Oh god!" (ele vai repetir "oh god" várias vezes, só pra mostrar que milagres não existem, porque o filme é meu). "God, oh god, oh my god!! AAhhh!" E continua correndo o máximo que suas pernas permitem, aos trancos e barrancos. Chegamos numa clareira onde uma luz pálida ilumina todo seu desespero e minha bela máscara inexpressiva, dando ao todo um certo ar de fatalidade. Nesse momento, eu faria uma filmagem de longe, só pra mostrar que a luz vem da grande Lua, que testemunha a coisa toda.
Seguindo uma certa lógica, saindo da floresta volumosa, ele se depara com um enorme campo de milho! (Porque milharal realmente assusta muito). Sem exitar, invade a plantação apavorado em busca de refúgio. Corre, corre, corre... "God, oh mighty god!". Eu caminho tranquilamente seguindo seu rastro, com minha enorme manta sendo arrastada pelo chão. Nesse momento deixo de carregar minha foice ao lado do corpo e a posiciono na horizontal, de modo a cortar todo milho no meu caminho. Agora eu filmaria tudo de cima: o quarterback fugindo como um animal desesperado e eu caminhando logo atrás, deixando um rastro de milho cortado por onde passo. Depois a câmera passaria do big shot para um enorme foco no rosto dele e a imagem ficaria chacoalhando como se corrêssemos junto com ele (pra compartilhar o desespero da vítima e bla bla bla). Todo arranhado, olhos esbugalhados, respiração rouca e ofegante... de repente troba com alguma coisa e cai pra trás desorientado. Deu de cara com um espantalho todo retalhado por corvos. Essa breve pausa me permite chegar até ele com minha arma em punho. O cara se vira, "Oh god, oh god! I'm sorry. Please don't kill me! No! No!". Com um movimento natural, levanto minha foice decidido, preparando o golpe final, o golpe de abate. Desço a lâmina com toda força na direção de minha presa "Noooooooooooo!", seu último grito ecoa por todo o campo. A câmera filma corvos voando em frente à Lua. Faz-se o silêncio... ...

Dou um zoom no jogador, que tem olhos fechados e as mãos em frente ao rosto virado para trás, como se tentasse se defender do golpe. A cãmera se afasta de uma vez. Podemos ver que a foice parou à poucos centímetros de seu crânio. Trêmulo e segurando a respiração, ele abre os olhos indeciso...
Close shot em mim, afasto minha foice num movimento seco, retiro minha máscara que esconde um enorme sorriso e falo com uma voz um tanto quanto divertida: "Uhu! Agora é sua vez!"



:: Ouvindo :: Si Señor, Control Machete (pra quem gosta de Hip-Hop, é um prato cheio)

:: Rabiscos de cela:
- Israel Son - 20:07




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