quinta-feira, março 10, 2005

Súcubos



Naquele dia quem diria, a atiçou minha palha sem rubor.
E já me sonhando umedecer entre seus lábios me sorriu um sorrir especial
Nem mesmo nada nos dissemos, que eu já fazia de você o meu ser cabal
Que já colocava em sua palma minha alma, meu fumo e sabor...

Com graça travessa picotou e esparramou
Minha essência sobre seco junco pálido,
Me passou a língua lasciva, enrolou,
Apertou um fatídico cilindro fálico.

Dia após dia me tragava para seu pulmão
E inalado me deliciava numa dança lúdica.
Era o mais perto que chegaria de seu coração
Cujas batidas maestravam minha doce música.

Já na guimba, ao ter consumido sua sanha como quis,
Me atirou num beco, taciturno como um poeta que escreve,
Sem viço, com mil marcas sobrepostas de rouge-à-lèvre*,
Agora dolorosas lembranças da moléstia, vilã cicatriz.

Abusou e desdenhou, mas impregnei em sua goela viciosa
E como guepardo que asfixia uma gazela graciosa,
As cinzas do meu feral amor
Lhe trouxeram um letal tumor.

Em sangue rubro e negro você me tossia.
(Porque sem junto a seus beiços eu não morreria)
Por escarros escarlates lhe sugaria
E lentamente, novamente, sua vida minha seria.

*rouge-à-lèvre = batom



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:: Rabiscos de cela:
- Israel Son - 02:37




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